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sábado, 10 de março de 2012

Poupança tem de mudar, diz Delfim

SÃO PAULO - A redução da taxa básica de juros a um dígito vai levar o governo a alterar remuneração da caderneta de poupança, afirmou o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto ontem em entrevista exclusiva à ‘Agência Estado’.


Nesse contexto, para ele, o superávit primário cheio também será cumprido pelo Poder Executivo neste ano: "Com a queda da Selic para um dígito, o governo Dilma caminha para levar a taxa de juro real entre 2,5% e 3% até o fim do seu mandato, em 2014."
De acordo com Delfim Netto, a tendência de super valorização do câmbio, com a perspectiva de ingresso maciço de capitais especulativos, e o fraco nível de atividade neste começo de ano foram os principais fatores que levaram o Copom a baixar a Selic de 10,5% para 9,75% na quarta-feira. "A decisão do BC além de incentivar a demanda, estimula a oferta, pois diz para os empresários: pode investir, que vamos garantir condições melhores de retorno para seus negócios no longo prazo, dado que a taxa de juros vai convergir gradualmente ao patamar registrado pelos países com quem competimos."
Poupança. Para Delfim, a redução dos juros para um dígito tornou inevitável que o governo neste ano precisará mudar a remuneração da poupança, que é 6% ao ano mais a Taxa Referencial, a TR. Para ele, a nova regra deverá levar em consideração uma certa porcentagem da Selic mais a TR para os futuros correntistas.
Segundo ele, falta ao Poder Executivo explicar à sociedade que tal alteração será benéfica à população. "Será preciso deixar claro para o cidadão que tem caderneta de poupança que essa alteração será melhor, pois com a queda dos juros ele pagará menos quando abrir um crediário para comprar qualquer produto a prazo", destacou o ex-ministro da Fazenda.
Investimento. "O resultado da reunião do Copom foi um tônico revigorante ao espírito animal dos empresários, que estava adormecido um pouco por causa das avaliações dos analistas de mercado sobre qual deve ser a tendência dos juros", disse. "O governo precisa cooptar o setor privado para elevar os investimentos do País", disse Delfim. A Formação Bruta de Capital Fixo alcançou uma marca equivalente a 19,3% do PIB em 2011, menor do que os 19,5% apurados em 2010.
Na avaliação do ex-ministro da Fazenda, a postura do BC de acelerar a velocidade do corte de juros vai reanimar os investimentos e pode tornar possível que o PIB cresça perto de 4% neste ano. O BC estima que a País registrará uma expansão de 3,5%. Segundo ele, se o Copom não tivesse adotado um novo ritmo para a queda da Selic ontem, muito provavelmente o País apresentaria uma expansão em 2012 mais baixa, bem semelhante à alta de 2,7% apurada no ano passado.
"O BC está muito atento à evolução dos fatos e está ativo. Em agosto passado, também atuou muito bem ao parar a alta dos juros para iniciar um movimento de queda. Se o Copom não tivesse adotado tal postura naquele momento, o Brasil teria um crescimento de 0% em 2011", afirmou.
Câmbio. De acordo com Delfim Netto, a redução da Selic é um dos melhores antídotos que o governo está adotando para diminuir o ingresso de capitais de curto prazo no Brasil, em busca de arbitragem de juros, dado que as taxas reais no G-7 são negativas. Para ele, a apreciação do câmbio não é o único problema da indústria e da economia do Brasil, mas é muito importante.
"O governo está certo em não deixar que seja destruído nosso setor manufatureiro, que é razoavelmente sofisticado e diversificado", disse. "Como uma fábrica nacional pode competir com a China, que tem o câmbio subvalorizado entre 25% e 30%, ao mesmo tempo que a cotação do real ante o dólar está apreciada entre 25% e 30%?", questionou. "Nesse contexto, é necessário controle de capitais, o que é reconhecido até pelo FMI." Além dos empresários no Brasil enfrentarem uma carga tributária muito alta porque a Constituição definiu que o País quer diminuir a desigualdade de renda, e os juros serem muito elevados, a valorização do câmbio é uma anomalia que precisa ser corrigida, diz Delfim: "É preciso evitar o carry trade realizado no Brasil por companhias, muitas delas com matriz no exterior e que remetem recursos para cá para aferir lucros financeiros extraordinários."
"O investimento estrangeiro direto que entra no Pais precisa comprovar que veio para cá para produzir mercadorias e gerar empregos. O governo vai encontrar as melhores formas para poder conferir isso", disse. 
Fonte: Ricardo Leopoldo, da Agência Estado - Economia e Negócios - O ESTADO DE SP

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